30 de dezembro de 2011
26 de dezembro de 2011
25 de dezembro de 2011
23 de dezembro de 2011
19 de dezembro de 2011
14 de dezembro de 2011
Somos a primeira pessoa do plural
Estamos tão perto uns dos outros. Somos contemporâneos, podemos juntar-nos na mesma frase, conjugarmo-nos no mesmo verbo e, no entanto, carregamos um invisível que nos afasta. Ouvimos os vizinhos de cima a arrastarem cadeiras, a atravessarem o corredor com sapatos de salto alto, a sua roupa molhada pinga sobre a nossa roupa a secar; ouvimos a voz dos vizinhos de baixo, dão gargalhadas, a nossa roupa molhada pinga sobre a roupa deles a secar; cheiramos as torradas dos vizinhos do lado, ouvimo-los a chamar o elevador e, no entanto, o nosso maior problema não é apenas não nos reconhecermos na rua. O nosso problema grande é estarmos convencidos que os problemas deles não nos dizem respeito. A nossa tragédia é acharmos que não temos nada a ver com isso.
Há três ou quatro anos, caminhava com um conhecido no aeroporto. De repente, ouviu-se um estalido. Ele agarrou-se ao peito com as duas mãos, caiu de joelhos e, pálido, esperou por morrer. Não morreu. Tinha-lhe rebentado um isqueiro no bolso da camisa. Aliviado, encostado a um balcão, a beber um copo de água, explicou que esse ardor repentino e esse susto pareceram-lhe um ataque cardíaco. Nunca tinha tido um ataque cardíaco antes, por isso confiou em descrições vagas, a que nunca tinha realmente prestado muita atenção.
Há alguns anos também, talvez um pouco mais do que três ou quatro, tinha acabado de participar num jantar cordial, reconfortante. Toda a gente estava bem disposta, à porta dos anfitriões, longa despedida, graças, à espera de táxi. De repente, tocou o telefone de um senhor com quem tinha estado a conversar durante todo o serão. Ninguém reparou nesse telefonema até ao momento em que o senhor começou a chorar convulsivamente. Ficámos todos a olhar sem saber como chegar até ele. Tínhamos braços, estendíamo-los na sua direcção, mas continuavam distantes.
Irritamo-nos com a existência uns dos outros. Fazemos sinais de luzes àquele homem com setenta anos, num carro dos anos setenta, que anda a setenta quilómetros por hora na auto-estrada. Contrariados, esperamos por aquela pessoa que atravessa a passadeira, enchemos as bochechas de ar e sopramos. Impacientes, batemos no volante. Daí a minutos, depois de estacionarmos o carro, somos essa pessoa a atravessar a passadeira. Da mesma maneira, daqui a algum tempo, não muito, seremos esse homem com setenta, dos setenta, a setenta. O tempo passa. Se deitarmos lixo para o chão, alguém o apanhará.
Um amigo que teve um AVC, que passou por uma reabilitação profunda, que enfrentou a morte e a paralisia, depois de anos de fisioterapia, depois de esforço gigante e sofrimento gigante, falou-me da forma como esse susto muda tudo. Passa-se a apreciar aquilo que realmente importa. A imensa maioria das preocupações transformam-se em luxos ridículos, desprezíveis, alimentados pela cegueira. Após essa experiência de quase morte, ganha-se uma nitidez invulgar, que, no entanto, esteve sempre lá. Para percebê-la, bastava levar a sério a promessa de transitoriedade de tudo e, também, levar a sério essa palavra, esse planeta: o amor. Ao ouvi-lo, fui capaz de entender aquilo que dizia. Depois, também fui capaz de entender quando me disse: mas, sabes, ao fim de algum tempo, esquecemo-nos, voltamos a tomar tudo por garantido e voltamos a cometer os mesmos erros.
Repito para mim próprio: estamos tão perto uns dos outros. Não há nenhum motivo para acreditarmos que ganhamos se os outros perderem. Os outros não são outros porque levam muito daquilo que nos pertence e que só pode existir sendo levado por eles. Eles definem-nos tanto quanto nós os definimos a eles. Eles são nós. Eles somos nós. Se tivermos essa consciência, podemos usar todo o seu tamanho. Mesmo que pudéssemos existir sozinhos, de olhos fechados, com os ouvidos tapados, seríamos já bastante grandes, mas existe algo muito maior do que nós. Fazemos parte dessa imensidão. Somos essa imensidão que, vista daqui, parece infinita.
| José Luís Peixoto, in revista Visão |
Há três ou quatro anos, caminhava com um conhecido no aeroporto. De repente, ouviu-se um estalido. Ele agarrou-se ao peito com as duas mãos, caiu de joelhos e, pálido, esperou por morrer. Não morreu. Tinha-lhe rebentado um isqueiro no bolso da camisa. Aliviado, encostado a um balcão, a beber um copo de água, explicou que esse ardor repentino e esse susto pareceram-lhe um ataque cardíaco. Nunca tinha tido um ataque cardíaco antes, por isso confiou em descrições vagas, a que nunca tinha realmente prestado muita atenção.
Há alguns anos também, talvez um pouco mais do que três ou quatro, tinha acabado de participar num jantar cordial, reconfortante. Toda a gente estava bem disposta, à porta dos anfitriões, longa despedida, graças, à espera de táxi. De repente, tocou o telefone de um senhor com quem tinha estado a conversar durante todo o serão. Ninguém reparou nesse telefonema até ao momento em que o senhor começou a chorar convulsivamente. Ficámos todos a olhar sem saber como chegar até ele. Tínhamos braços, estendíamo-los na sua direcção, mas continuavam distantes.
Irritamo-nos com a existência uns dos outros. Fazemos sinais de luzes àquele homem com setenta anos, num carro dos anos setenta, que anda a setenta quilómetros por hora na auto-estrada. Contrariados, esperamos por aquela pessoa que atravessa a passadeira, enchemos as bochechas de ar e sopramos. Impacientes, batemos no volante. Daí a minutos, depois de estacionarmos o carro, somos essa pessoa a atravessar a passadeira. Da mesma maneira, daqui a algum tempo, não muito, seremos esse homem com setenta, dos setenta, a setenta. O tempo passa. Se deitarmos lixo para o chão, alguém o apanhará.
Um amigo que teve um AVC, que passou por uma reabilitação profunda, que enfrentou a morte e a paralisia, depois de anos de fisioterapia, depois de esforço gigante e sofrimento gigante, falou-me da forma como esse susto muda tudo. Passa-se a apreciar aquilo que realmente importa. A imensa maioria das preocupações transformam-se em luxos ridículos, desprezíveis, alimentados pela cegueira. Após essa experiência de quase morte, ganha-se uma nitidez invulgar, que, no entanto, esteve sempre lá. Para percebê-la, bastava levar a sério a promessa de transitoriedade de tudo e, também, levar a sério essa palavra, esse planeta: o amor. Ao ouvi-lo, fui capaz de entender aquilo que dizia. Depois, também fui capaz de entender quando me disse: mas, sabes, ao fim de algum tempo, esquecemo-nos, voltamos a tomar tudo por garantido e voltamos a cometer os mesmos erros.
Repito para mim próprio: estamos tão perto uns dos outros. Não há nenhum motivo para acreditarmos que ganhamos se os outros perderem. Os outros não são outros porque levam muito daquilo que nos pertence e que só pode existir sendo levado por eles. Eles definem-nos tanto quanto nós os definimos a eles. Eles são nós. Eles somos nós. Se tivermos essa consciência, podemos usar todo o seu tamanho. Mesmo que pudéssemos existir sozinhos, de olhos fechados, com os ouvidos tapados, seríamos já bastante grandes, mas existe algo muito maior do que nós. Fazemos parte dessa imensidão. Somos essa imensidão que, vista daqui, parece infinita.
| José Luís Peixoto, in revista Visão |
13 de dezembro de 2011
9 de dezembro de 2011
8 de dezembro de 2011
7 de dezembro de 2011
6 de dezembro de 2011
5 de dezembro de 2011
2 de dezembro de 2011
The beauty of an ugly addition, by Frieke Janssens
Uma criança indonésia de 2 anos fuma 40 cigarros por dia e a fotógrafa Frieke Janssens põe cigarros de queijo nas mãos de outras crianças.
As respostas aos porquês em http://www.ilovebelgium.be/smoking-kids
30 de novembro de 2011
29 de novembro de 2011
28 de novembro de 2011
27 de novembro de 2011
22 de novembro de 2011
18 de novembro de 2011
17 de novembro de 2011
16 de novembro de 2011
an aquarium between them
The time has come again
Slowly walking down the steps
To where she would have been
If only they were seventeen
Waiting patiently
And stood between a fraying seam
Hiding from himself
As well as everybody else
Without permission
His face became wet
He thought he'd learnt how to not get upset
From folded notes in envelopes
'Meet me beneath the moon, don't go too soon
She went too soon.
The time has come again
And slowly walking down the steps,
To where she would have been
If only they were seventeen.
12 de novembro de 2011
27 de outubro de 2011
«fazer com que as pessoas se perdessem no bairro era um acto de generosa simpatia (…) sabia que se as pessoas fossem directamente, sem qualquer desvio, para o seu destino, nunca teriam oportunidade de ver e conhecer cantinhos que só os homens muito perdidos descobrem.»
| Gonçalo M. Tavares, O Senhor Calvino |
| Gonçalo M. Tavares, O Senhor Calvino |
26 de outubro de 2011
25 de outubro de 2011
23 de outubro de 2011
casa
se algum dia por acaso
eu voltar a rasgar a tua latitude neste planeta
podes abocanhar-me
caçar-me com os incisivos balançar-me na boca
não aceites as minhas habituais desculpas
de nómada
nem
acredites quando te disser que tudo o que tenho
cabe dentro de uma mala
começa por esconder-me os sapatos
convence-me a destruir os mapas de viagem
e a engolir âncoras pedras
um endereço com número na porta
mesmo que o meu desassossego geográfico
estremeça a perna direita
debaixo da mesa e agite o metal dos talheres
não hesites
leva-me para tua casa
prova-me que não tenho de apanhar o último comboio, avião, taxi da noite
que incendeia a costa e que me ajuda
a fugir todas as madrugadas
recebe-me nas zonas sem roupa
do teu corpo
manobra-me a língua
usa-me
quando a tua carne já não precisar de mim
amarra-me
cuida do meu sono temporário
obriga-me a dizer-te aquilo que os meus dentes
sem coração nunca autorizaram:
esta noite durmo contigo.
| Hugo Gonçalves |
eu voltar a rasgar a tua latitude neste planeta
podes abocanhar-me
caçar-me com os incisivos balançar-me na boca
não aceites as minhas habituais desculpas
de nómada
nem
acredites quando te disser que tudo o que tenho
cabe dentro de uma mala
começa por esconder-me os sapatos
convence-me a destruir os mapas de viagem
e a engolir âncoras pedras
um endereço com número na porta
mesmo que o meu desassossego geográfico
estremeça a perna direita
debaixo da mesa e agite o metal dos talheres
não hesites
leva-me para tua casa
prova-me que não tenho de apanhar o último comboio, avião, taxi da noite
que incendeia a costa e que me ajuda
a fugir todas as madrugadas
recebe-me nas zonas sem roupa
do teu corpo
manobra-me a língua
usa-me
quando a tua carne já não precisar de mim
amarra-me
cuida do meu sono temporário
obriga-me a dizer-te aquilo que os meus dentes
sem coração nunca autorizaram:
esta noite durmo contigo.
| Hugo Gonçalves |
22 de outubro de 2011
Pensámos em nada
Pensámos tanto em nada. Despenteados,
caçámos fantasmas de elefantes
na casa desarrumada, de estores fechados,
milionários esbanjadores de instantes,
piratas de tesouros enterrados, ilhas distantes,
sorte parada. Pensámos demasiado em nada.
Cobertos por farrapos de tempo,
arame farpado de tempo, cheiro a terra
molhada, um momento, outro momento,
a memória inteira emparedada, e nós,
sem desculpas, astronautas, centauros,
entre o sexo e o medo, presos na piscina
vazia e abandonada, no centro de tudo,
pensámos apenas em nada.
| José Luís Peixoto |
18 de outubro de 2011
(..) no centro da cidade, um grito. Nele morrerei, escrevendo o que a vida me deixar. E sei que cada palavra escrita é um dardo envenenado, tem a dimensão de um túmulo, e todos os teus gestos são uma sinalização em direcção à morte - embora seja sempre absurdo morrer. Mas hoje, ainda longe daquele grito, sento-me na fímbria do mar. Medito no meu regresso. Possuo para sempre tudo o que perdi. E uma abelha pousa no azul do lírio, e no cardo que sobreviveu à geada. (...) Bebo, fumo, mantenho-me atento, absorto - aqui sentado, junto à janela fechada. Ouço-te ciciar amo-te pela primeira vez, e na ténue luminosidade que se recolhe ao horizonte acaba o corpo. Recolho o mel, guardo a alegria, e digo-te baixinho: Apaga as estrelas, vem dormir comigo no esplendor da noite do mundo que nos foge.
| Al Berto, Lunário |
11 de outubro de 2011
paisagem citadina
A pele por fulgurantes
instantes muitas vezes abre-se até onde
seria impensável que exercesse
com tão grande rigor o seu domínio.
Não temos então dela senão rápidas
visões, onde os reclames
do coração se cruzam, solitários
e agrestes, reflectidos
por trás nos ossos empedrados.
Em certas posições vêem-se as cordas
do nosso espírito esticadas num terraço.
A roupa dói-nos porque, embora
nos cubra a pele, é dentro
do espírito que estão os tecidos amarrados.
| Luís Miguel Nava |
9 de outubro de 2011
6 de outubro de 2011
afinal, há sol depois do verão
This is a story of boy meets girl. The boy, Tom Hansen of Margate, New Jersey, grew up believing that he'd never truly be happy until the day he met the one. This belief stemmed from early exposure to sad British pop music and a total mis-reading of the movie 'The Graduate'. The girl, Summer Finn of Shinnecock, Michigan, did not share this belief. Since the disintegration of her parent's marriage she'd only love two things. The first was her long dark hair. The second was how easily she could cut it off and not feel a thing. Tom meets Summer on January 8th. He knows almost immediately she is who he has been searching for. This is a story of boy meets girl, but you should know upfront, this is not a love story.
.
.
.
This is a story about love.
28 de setembro de 2011
Estilhaçando sonhos bolhas róseas
a armadura dos murmúrios
os presentes das nossas gargantas que não chegaremos a abrir
obliterando tudo isso
eu pergunto
se a noite tem ao fundo
para lá da palavra fim
um fogo perene
uma chama inflexível
onde o nosso sorriso possa acontecer
síncrono
| Angel |
25 de setembro de 2011
21 de setembro de 2011
20 de setembro de 2011
18 de setembro de 2011
los ojos hablan
“No le de más vueltas. Va a tener mil pasados sin ningún futuro. No piense más. Se va a quedar solo con recuerdos.”
15 de setembro de 2011
11 de setembro de 2011
supondo que sonhei isto)
imagina só, quando o dia estremece
tu és uma casa em torno da qual
eu sou um vento-
as tuas paredes não se aperceberão de como
estranhamente a minha vida é curva
já que o melhor que se pode fazer
é espreitar pelas janelas, inobservado
-ouve, pois (acima de todas
as coisas)o sonho não se deixa enganar;
se este vento que eu sou ronda
cuidadosamente em torno desta casa que és tu
o amor sendo assim, ou assim,
as habituais esquinas do teu coração
nunca adivinharão o quanto
o meu maravilhoso ciúme é negro
se a luz florir:
ou o riso cintilar na
casa fechada (em torno e em torno
da qual um pobre vento vai vaguear
| e.e. cummings |
A cidade é um chão de palavras pisadas [...] A cidade é um céu de palavras paradas [...] A cidade é um saco um pulmão que respira pela palavra água pela palavra brisa A cidade é um poro um corpo que transpira pela palavra sangue pela palavra ira. [...] A palavra sarcasmo é uma rosa rubra. A palavra silêncio é uma rosa chá. Não há céu de palavras que a cidade não cubra não há rua de sons que a palavra não corra à procura da sombra de uma luz que não há.
| José Carlos Ary dos Santos |
| José Carlos Ary dos Santos |
- "Como é que, durante todos esses anos, ninguém mais, senão eu, pediu para entrar?". O guarda da porta, apercebendo-se de que o homem estava no fim, grita-lhe ao ouvido quase inerte: -"Aqui ninguém mais, senão tu, podia entrar, porque só para ti era feita esta porta."
| Franz Kafka, Diante da Lei |
9 de setembro de 2011
Hold Heart
Hold heart
Don't beat so loud
For me keep your calm
As he walks out on you
No tears
Don't you come out
If you blind me now
I am defeated
No lips
Don't make a sound
Don't let him hear
The break in your voice
Hand let go of this
With ease n' grace
Don't let him bleed under your nails
Oh Lord
Take off thy crown
You're my king no more
With start merciless heart
Hold heart
Don't beat so loud
For me keep your calm
As he walks out on you
No tears
Don't you come out
If you blind me now
I am defeated
8 de setembro de 2011
transparência
Momentos há em que a toda a nossa volta os objectos se tornam insuportáveis como se nos roubassem o ar, como se neles houvesse uma respiração onde o ar e a luz interviessem simultaneamente. Entre os sabores que tocam no meu espírito procuro então o que de melhor me possa devolver à transparência, não a dos espelhos ou dos vidros, que a literalidade impregna, mas a abrupta transparência dos sentidos.
| Luís Miguel Nava |
7 de setembro de 2011
6 de setembro de 2011
5 de setembro de 2011
The Winner Is
Dwayne: I wish I could just sleep until I was eighteen and skip all this crap-high school and everything-just skip it.
Frank: Do you know who Marcel Proust is?
Dwayne: He's the guy you teach.
Frank: Yeah. French writer. Total loser. Never had a real job. Unrequited love affairs. Gay. Spent 20 years writing a book almost no one reads. But he's also probably the greatest writer since Shakespeare. Anyway, he uh... he gets down to the end of his life, and he looks back and decides that all those years he suffered, Those were the best years of his life, 'cause they made him who he was. All those years he was happy? You know, total waste. Didn't learn a thing. So, if you sleep until you're 18... Ah, think of the suffering you're gonna miss. I mean high school? High school-those are your prime suffering years. You don't get better suffering than that.
| Little Miss Sunshine |
4 de setembro de 2011
2 de setembro de 2011
1 de setembro de 2011
29 de agosto de 2011
26 de agosto de 2011
moras nas minhas pálpebras e eu não sei o que te vestir. o teu corpo tem formas diferentes: regressaste ao que eras para mim. a pele esticada, os olhos cintilantes, o andar decidido que se reflecte nos gestos e que segreda a ânsia da vida. sorris para os que passam e esqueces-te de ti. chamo o teu nome mas continuas o teu caminho, como se não o conhecesses ou como se procurasses um destino melhor. desapareces de tempos a tempos, mas sei que te encontro sempre nas minhas pálpebras.
25 de agosto de 2011
24 de agosto de 2011
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.
| David Mourão-Ferreira |
22 de agosto de 2011
19 de agosto de 2011
«(...) It seems I am trying to tell you a dream--making a vain attempt, because no relation of a dream can convey the dream-sensation, that commingling of absurdity, surprise, and bewilderment in a tremor of struggling revolt, that notion of being captured by the incredible which is the very essence of dreams...no, it is impossible; it is impossible to convey the life-sensation of any given epoch of one's existence--that which makes its truth, its meaning--its subtle and penetrating essence. It is impossible. We live, as we dream--alone...»
| Joseph Conrad, Heart of Darkness |
18 de agosto de 2011
... das luzes, dos acordes e das harmonias? É tudo encantamento e a realidade foge para um recanto desarrumado do cérebro. Passas a viver do ar, daquilo que sonhas, do que queres desesperadamente ser. E esqueces uma parte do mundo à tua volta. Num ápice, fechas os olhos às coisas que importam e que pulsam. Consegues apagá-las, mesmo depois de terem habitado o teu centro? Redefiniste prioridades. Mas está tudo bem. Agora sim, és feliz.
17 de agosto de 2011
Uma pequenina luz
Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una picolla… em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Brilhando indeflectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
no meio de nós.
Brilha
| Jorge de Sena |
15 de agosto de 2011
14 de agosto de 2011
12 de agosto de 2011
If you just get it together and read my mind
Then sleeping would be easy
And then i'll be there to acquiesce
I confess i'm in trouble
Another afternoon of increments
And asking the wrong questions
Then you get up and leave again
Just as the evening threatens to set
Consider this now it's not too late
I have watched you change
The colour of the trap
I have learned to wait
Most of the things that you say
I don't understand but i will sit and listen
I nod along attentively
But the truth is i cant concentrate
Consider this now it's not too late
I have watched you change
The colour of the trap
I have learned a way
Make no mistake
I have learned to wait
And learned you can make me
I need something to sort me out
I need someone to come and shake me
And your exit calms me down
Before it infuriates me
Girl i'm in trouble
Wish you'd just get it together and read my mind.
| Alex Turner, Colour of the trap by Miles Kane |
10 de agosto de 2011
8 de agosto de 2011
6 de agosto de 2011
"Os pulmões são bonitos - nunca percebi porque é que as pessoas não os escolheram como lugar simbólico dos sentimentos, em vez da banalidade do coração. Os pulmões abrem e fecham, como se estivessem debaixo de água, esponjas do fundo do mar. O coração é apenas uma bomba. Como se pode preferir uma coisa que «bate», que não bate coisíssima nenhuma, a uma coisa que respira?"
| Miguel Esteves Cardoso, A Vida Inteira |
5 de agosto de 2011
4 de agosto de 2011
2 de agosto de 2011
29 de julho de 2011
28 de julho de 2011
27 de julho de 2011
24 de julho de 2011
11 de julho de 2011
entre o colchão e a mesa de cabeceira, deitado numa moldura de madeira
As mãos nos bolsos, como se com eles comunicasse o coração, às vezes aparecia por aí.
O nome que lhe tinham posto era, no entanto, demasiado para uma só pessoa.
Trazê-lo assim sempre consigo abria-lhe feridas pelo corpo, onde as cortinas se metiam, agitadas pelo vento.
Não serei eu a negar que o raciocínio e a pele se contaminam, costumava-me ele dizer.
Ainda hoje a pele ganha terreno ao coração.
| Luís Miguel Nava |
O nome que lhe tinham posto era, no entanto, demasiado para uma só pessoa.
Trazê-lo assim sempre consigo abria-lhe feridas pelo corpo, onde as cortinas se metiam, agitadas pelo vento.
Não serei eu a negar que o raciocínio e a pele se contaminam, costumava-me ele dizer.
Ainda hoje a pele ganha terreno ao coração.
| Luís Miguel Nava |
10 de julho de 2011
8 de julho de 2011
4 de julho de 2011
30 de junho de 2011
29 de junho de 2011
26 de junho de 2011
20 de junho de 2011
17 de junho de 2011
11 de junho de 2011
5 de junho de 2011
1 de junho de 2011
31 de maio de 2011
29 de maio de 2011
21 de maio de 2011
18 de maio de 2011
16 de maio de 2011
11 de maio de 2011
10 de maio de 2011
4 de maio de 2011
2 de maio de 2011
24 de abril de 2011
23 de abril de 2011
19 de abril de 2011
explicação da eternidade
devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.
os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.
por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.
os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.
foste eterna até ao fim.
| «A Casa, A Escuridão», José Luís Peixoto |
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.
os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.
por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.
os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.
foste eterna até ao fim.
| «A Casa, A Escuridão», José Luís Peixoto |
18 de abril de 2011
14 de abril de 2011
11 de abril de 2011
5 de abril de 2011
volto já
agora estou nas partidas. corro para o balcão de check-in e digo "sem bagagem de porão". sigo depois lentamente para a porta de embarque e entro no avião. para qualquer lado. só quero fumar um cigarro lá. ou mil.
4 de abril de 2011
29 de março de 2011
eternal__of__spotless__
Your softly spoken words
Release my whole desire
Undenied
Totally
And so bare is my heart, I can't hide
And so where does my heart, belong
Beneath your tender touch
My senses can't divide
Ohh so strong
My desire
For so bare is my heart, I can't hide
And so where does my heart, belong
Now that I've found you
And seen behind those eyes
How can I
Carry on
For so bare is my heart, I can't hide
And so where does my heart, belong
Belong
Belong
Belong
| Undenied, Portishead |
26 de março de 2011
sussurrante
nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando subtilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa
ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade:cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva,tem mãos tão pequenas
| e.e.cummings |
23 de março de 2011
20 de março de 2011
15 de março de 2011
Hiding Tonight
Tomorrow I'll be quicker
I'll stare into the strobe light flicker
And afloat I'll stay
But I'm quite alright hiding today
Tomorrow I'll be faster
I'll catch what i've been chasing after
And have time to play
But I'm quite alright hiding today
And I will play the coconut shy
And win a prize even if it's rigged
I won't know when to stop
And you can leave off my lid, and i won't even lose my fizz
I'll be the polkadots type
I'll know the way back, if you know the way
But if you are, I am quite alright, hiding today
Tomorrow i'll be stronger, running colourful
No longer just in black and white
And i'm quite alright hiding tonight
And i will have a game on the coconut shy
And win a prize even if it's rigged
I won't know when to stop
And you can leave off my lid, and i won't even lose my fizz
I'll be the polkadots type
I'll probably swim through a few lagoons
I'll have a spring in my step
And i'll get there soon
To sing you a happy tune, tomorrow
And you better bring a change of clothes
So we can sail our laughing pianos along a beam of light
But I'm quite alright
Hiding tonight
14 de março de 2011
11 de março de 2011
chemistry*
* the emotional or psychological interaction between two people, especially when experienced as a powerful mutual attraction
10 de março de 2011
7 de março de 2011
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