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23 de outubro de 2011

casa

se algum dia      por acaso
eu voltar a rasgar a tua latitude neste planeta
podes abocanhar-me
caçar-me com os incisivos      balançar-me na boca

não aceites as minhas habituais desculpas
de nómada
nem
acredites quando te disser que tudo o que tenho
cabe dentro de uma mala

começa por esconder-me os sapatos

convence-me a destruir os mapas de viagem
e a engolir      âncoras      pedras
um endereço com número na porta

mesmo que o meu desassossego geográfico
estremeça a perna direita
debaixo da mesa      e agite o metal dos talheres
não hesites
leva-me para tua casa

prova-me que não tenho de apanhar o último comboio, avião, taxi da noite
que incendeia a costa e que me ajuda
a fugir todas as madrugadas

recebe-me nas zonas sem roupa
do teu corpo

manobra-me a língua
usa-me

quando a tua carne já não precisar de mim
amarra-me
cuida do meu sono temporário

obriga-me a dizer-te aquilo que os meus dentes
sem coração nunca autorizaram:

esta noite durmo contigo.

| Hugo Gonçalves |

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