| Gonçalo M. Tavares, O Senhor Calvino |
27 de outubro de 2011
«fazer com que as pessoas se perdessem no bairro era um acto de generosa simpatia (…) sabia que se as pessoas fossem directamente, sem qualquer desvio, para o seu destino, nunca teriam oportunidade de ver e conhecer cantinhos que só os homens muito perdidos descobrem.»
| Gonçalo M. Tavares, O Senhor Calvino |
| Gonçalo M. Tavares, O Senhor Calvino |
26 de outubro de 2011
25 de outubro de 2011
23 de outubro de 2011
casa
se algum dia por acaso
eu voltar a rasgar a tua latitude neste planeta
podes abocanhar-me
caçar-me com os incisivos balançar-me na boca
não aceites as minhas habituais desculpas
de nómada
nem
acredites quando te disser que tudo o que tenho
cabe dentro de uma mala
começa por esconder-me os sapatos
convence-me a destruir os mapas de viagem
e a engolir âncoras pedras
um endereço com número na porta
mesmo que o meu desassossego geográfico
estremeça a perna direita
debaixo da mesa e agite o metal dos talheres
não hesites
leva-me para tua casa
prova-me que não tenho de apanhar o último comboio, avião, taxi da noite
que incendeia a costa e que me ajuda
a fugir todas as madrugadas
recebe-me nas zonas sem roupa
do teu corpo
manobra-me a língua
usa-me
quando a tua carne já não precisar de mim
amarra-me
cuida do meu sono temporário
obriga-me a dizer-te aquilo que os meus dentes
sem coração nunca autorizaram:
esta noite durmo contigo.
| Hugo Gonçalves |
eu voltar a rasgar a tua latitude neste planeta
podes abocanhar-me
caçar-me com os incisivos balançar-me na boca
não aceites as minhas habituais desculpas
de nómada
nem
acredites quando te disser que tudo o que tenho
cabe dentro de uma mala
começa por esconder-me os sapatos
convence-me a destruir os mapas de viagem
e a engolir âncoras pedras
um endereço com número na porta
mesmo que o meu desassossego geográfico
estremeça a perna direita
debaixo da mesa e agite o metal dos talheres
não hesites
leva-me para tua casa
prova-me que não tenho de apanhar o último comboio, avião, taxi da noite
que incendeia a costa e que me ajuda
a fugir todas as madrugadas
recebe-me nas zonas sem roupa
do teu corpo
manobra-me a língua
usa-me
quando a tua carne já não precisar de mim
amarra-me
cuida do meu sono temporário
obriga-me a dizer-te aquilo que os meus dentes
sem coração nunca autorizaram:
esta noite durmo contigo.
| Hugo Gonçalves |
22 de outubro de 2011
Pensámos em nada
Pensámos tanto em nada. Despenteados,
caçámos fantasmas de elefantes
na casa desarrumada, de estores fechados,
milionários esbanjadores de instantes,
piratas de tesouros enterrados, ilhas distantes,
sorte parada. Pensámos demasiado em nada.
Cobertos por farrapos de tempo,
arame farpado de tempo, cheiro a terra
molhada, um momento, outro momento,
a memória inteira emparedada, e nós,
sem desculpas, astronautas, centauros,
entre o sexo e o medo, presos na piscina
vazia e abandonada, no centro de tudo,
pensámos apenas em nada.
| José Luís Peixoto |
18 de outubro de 2011
(..) no centro da cidade, um grito. Nele morrerei, escrevendo o que a vida me deixar. E sei que cada palavra escrita é um dardo envenenado, tem a dimensão de um túmulo, e todos os teus gestos são uma sinalização em direcção à morte - embora seja sempre absurdo morrer. Mas hoje, ainda longe daquele grito, sento-me na fímbria do mar. Medito no meu regresso. Possuo para sempre tudo o que perdi. E uma abelha pousa no azul do lírio, e no cardo que sobreviveu à geada. (...) Bebo, fumo, mantenho-me atento, absorto - aqui sentado, junto à janela fechada. Ouço-te ciciar amo-te pela primeira vez, e na ténue luminosidade que se recolhe ao horizonte acaba o corpo. Recolho o mel, guardo a alegria, e digo-te baixinho: Apaga as estrelas, vem dormir comigo no esplendor da noite do mundo que nos foge.
| Al Berto, Lunário |
11 de outubro de 2011
paisagem citadina
A pele por fulgurantes
instantes muitas vezes abre-se até onde
seria impensável que exercesse
com tão grande rigor o seu domínio.
Não temos então dela senão rápidas
visões, onde os reclames
do coração se cruzam, solitários
e agrestes, reflectidos
por trás nos ossos empedrados.
Em certas posições vêem-se as cordas
do nosso espírito esticadas num terraço.
A roupa dói-nos porque, embora
nos cubra a pele, é dentro
do espírito que estão os tecidos amarrados.
| Luís Miguel Nava |
9 de outubro de 2011
6 de outubro de 2011
afinal, há sol depois do verão
This is a story of boy meets girl. The boy, Tom Hansen of Margate, New Jersey, grew up believing that he'd never truly be happy until the day he met the one. This belief stemmed from early exposure to sad British pop music and a total mis-reading of the movie 'The Graduate'. The girl, Summer Finn of Shinnecock, Michigan, did not share this belief. Since the disintegration of her parent's marriage she'd only love two things. The first was her long dark hair. The second was how easily she could cut it off and not feel a thing. Tom meets Summer on January 8th. He knows almost immediately she is who he has been searching for. This is a story of boy meets girl, but you should know upfront, this is not a love story.
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This is a story about love.
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